terça-feira, 14 de agosto de 2012

Nem a Cruz vermelha escapa da corrupção no Brasil

Publicado na revista VEJA

S.O.S. CRUZ VERMELHA 
No mundo inteiro há mais de um século, a Cruz Vermelha ajuda as vítimas de catástrofes e guerras civis, mas no Brasil, minada por suspeitas de corrupção e desvio de dinheiro na cúpula, é ela que pede socorro

Toda vez que uma catástrofe abala o planeta – seja a Síria conflagrada, seja o Japão devastado por um tsunami, seja a região serrana do Rio de Janeiro arrasada por chuvas e deslizamentos -, a Cruz Vermelha se faz presente, prestando serviços sustentados por doações vindas de todo o mundo. 
Com eficiência e credibilidade, a organização fundada em 1863 pelo suíço Jean Henri Dunant (ganhador da primeira edição do Prêmio Nobel da Paz, em 1901) e sediada em Genebra, na Suíça, estabeleceu na prática os direitos e deveres humanos depois consolidados na Convenção de Genebra, firmou sólida reputação de neutralidade e, assentada em firme alicerce de respeitabilidade, tornou-se uma máquina eficiente de arrecadação de doações e recrutamento de voluntários – inclusive no Brasil, onde completa 100 anos de atividade justamente em 2012.
Um aniversário, infelizmente, tisnado por um triste revés. O Ministério Público começa a revirar um lamaçal que aponta para o desvio de um montante de dinheiro de doações à Cruz Vermelha. O valor, ainda não totalmente conhecido, conta-se na casa dos milhões. 
Nas últimas quatro semanas, VEJA entrevistou conselheiros, funcionários, colaboradores e doadores da Cruz Vermelha, analisou mais de 1 000 documentos, e a conclusão do trabalho é que os recursos doados à entidade no Brasil não foram aplicados como pensam os incautos beneméritos. 
No ano passado, a Cruz Vermelha Brasileira organizou três grandes campanhas nacionais de arrecadação – uma para as vítimas dos deslizamentos na região serrana fluminense, que deixaram 35 000 desabrigados; outra para a Somália, país africano faminto e devastado por guerras civis; e mais uma para a tragédia do terremoto seguido de tsunami no norte do Japão.
Os recursos arrecadados nessas campanhas, com toda a certeza, não foram aplicados em nenhum daqueles locais. Nem um único centavo chegou a quem precisava. Nos três casos, as doações foram encaminhadas para contas bancárias da entidade no Banco do Brasil em São Luís, no Maranhão. 
Por que no Maranhão? Não se sabe, mas se suspeita: 1) porque o presidente nacional da Cruz Vermelha, Walmir Moreira Serra Júnior, mora lá; e 2) porque justamente sua irmã, Carmen Serra, é quem comanda a filial da Cruz Vermelha maranhense. Sob os argumentos mais diversos, os irmãos Serra passaram a manter as contas sob sigilo, e nem o alto escalão da entidade tem informações sobre o montante depositado ou sobre as movimentações.

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